A morte é uma das poucas certezas que carregamos desde que chegamos a este mundo. Mesmo assim uma grande parcela das mazelas espirituais enfrentadas parte da não aceitação da mesma – e da tentativa de eternizar a carne.

O “memento mori” dos estoicos era uma constante lembrança desta realidade, e portanto da necessidade de volver ao que é celeste, superno, tendo consciência da própria temporalidade.

Na cosmogonia islâmica, por sua vez, além de diversos signos gravados ao longo de toda a rica simbologia metafísica da religião, a ideia do martírio apresenta uma das mais altas formas de transcendência – a que vem por meio do falecimento em defesa da fé.

É necessário, desta forma, incrustar no próprio Ser o conhecimento desta limitação – e preparar-se para a mesma através da purificação interior, só assim é possível, em certa medida, fugir da decadência que se manifesta por meio deste temor.

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Um traço comum na biografia de todos os grandes homens é a auto-observação da qual emerge uma capacidade hercúlea de aperfeiçoamento através da correção de si, por meio de ritos e da conexão áurea para com o sagrado.

É exatamente desta purificação interior que nasce a aptidão à mudança do mundo exterior – já que nada reverbera neste sem previamente ter sido cultivado no âmago.

A obsessão pelo câmbio exteriorizado, pela tentativa de trazer acachapantes mudanças políticas sem a manutenção desta flama íntima é inócua – e um dos frutos da modernidade, esta que em seu materialismo nega o silêncio perene das verdades interiorizadas no Espírito.

Neste sentido o indivíduo, antes de ansiar por hecatombes e cataclismos, deve olhar para si – retificando a pedra bruta da alma por meio do labor sacro e da entrega ao divino.

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O homem é vertical, no sentido de que sua disposição natural é alçar-se ao alto, em busca do princípio divino, de modo a preencher o vazio existencial que naturalmente carrega em si desde a sua concepção.

O mundo moderno, todavia, transferiu o cerne da existência do sagrado ao lucro, rompendo abruptamente o cordão que atava o indivíduo àquilo que o transcende – o resultado é uma civilização de doentes, mergulhados na amargura desta conexão perdida.

O aumento vertiginoso de doenças psicológicas e questões sociais profundas oriundas destas, desta forma, são apenas desdobramentos da deterioração deste postulado que por milênios ditou a vida humana, agora esquecido e vilipendiado.

É necessário, portanto, manter acesa no coração a flama do contato para com o que é sacro, mesmo que puramente no silêncio do que é interiorizado, assim é possível escapar das potências telúricas desta era de decadência.

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O materialismo, a base das ideologias da modernidade, versa que não há norte metafísico ao homem – sendo, deste modo, o júbilo e a satisfação o denominador comum de todos os cálculos, comparações e postulados humanos nesta era.

Nunca, ao longo de toda a história, se produziu tanto prazer. Mesmo assim os modernos se veem numa epidemia de depressão e problemas psicológicos – contrariando, de certa forma, os preceitos contemporâneos.

O homem carrega um profundo vazio em si, fruto de sua condição existencial natural. Tal vácuo só pode ser preenchido através do sagrado, dos ritos e do contato verdadeiro com a Tradição.

Ao romper tais laços as revoluções liberais não aboliram o pensamento religioso – mas criaram um novo, erigindo uma religião secular que, em seu aspecto tardio, visto atualmente no Ocidente, é incapaz de tolerar qualquer coisa além de si mesma.

A solução é manter acesa a flama do Espírito no íntimo, não permitindo que tais forças telúricas comandem e apodreçam a alma, mesmo que em segredo – até que, no momento derradeiro, venha novamente a aurora, rompendo os grilhões tecnocráticos que regem o cosmos.

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