Não há como escaparmos por completo da catástrofe. Por mais fortes que sejam as estruturas do mundo que criarmos e por mais cautela que tenhamos em cada passo da vida, as forças impessoais que comandam essa realidade e sempre estiveram aqui muito antes de nós e continuarão a estar até o fim sempre estarão a espreita. Cedo ou tarde elas vão escapar, encontrar alguma brecha entre os constructos da vida e da civilização e devassarão tudo. Pode ser um evento cataclísmico de dimensões globais ou algo local e diminuto dizendo respeito a um único individuo, tanto faz. A questão é que todos devem estar aptos a encarar essa realidade. Com o advento das sociedades organizadas e tecnológicas a humanidade se iludiu achando que estava em segurança, mas basta vir a primeira tormenta ou mero microorganismo um pouco mais complexo e tudo se torna fora de controle, com o caos imperando. Nós seres humanos somos apenas a materialização de um flash infantil frente a infinitude da existência. Ainda há muito a se aprender.

""Continuação""

Não existem seres e objetos fixos e imutáveis. Tudo é um fenômeno em transformação contínua, como alguns sábios e filósofos de épocas mais antigas já notaram, como por exemplo os gregos com a noção do Devir:

"Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio… pois na segunda vez o rio já não é o mesmo rio, nem tão pouco o homem o mesmo homem!"

Eu não sou quem era ontem, tão pouco o mundo. E amanhã já serei outro.
É com base nisso que eu vejo que é algo mais interessante e calcado na realidade pensar não num objetivo, mas numa série de objetivos, estar procurando sempre ir um pouco mais além, buscando uma nova transformação. Assim é a natureza da realidade que estamos presentes. Dúvida? Olhe para uma foto do seu passado e tudo que você vai ver é um estranho.

Todos os dias nós morremos de alguma forma, nunca somos exatamente quem sempre fomos.
Observe que isso é em nível biológico, consciencial e interpessoal.
A cada 24 horas cerca de 50 bilhões de células do nosso corpo morrem e outras bilhões de novas células tomam o seu lugar, células essas geradas pela conversão de energia de diferentes nutrientes de diferentes lugares.
A cada dia que passa o nosso eu se modifica. As interações contínuas entre as características intrínsecas do sujeito e as experiências do mundo externo sempre tem como produto uma pequena parcela de modificação nas vontades e na visão em relação ao mundo.
E por fim, todas essas relações em nós e nos outros afetam como os outros nos enxergam, estamos sempre mudando para eles e eles para nós e a falta de noção disso muitas vezes se dá porque se trata de uma adaptação mútua e paralela e é justamente essa adaptabilidade contínua que impede a estranheza em face as modificações, mesmo profundas.

""Continua""

Continuação

Observe por exemplo que as tecnologias que mais avançam com afinco são justamente aquelas que visam o maior controle e vigilância social. A opinião e o pensamento diferente são muito mais criminalizados do que a violência bruta. Longe de achar que tudo isso é por partidarismo, no fim das contas é na realidade apenas o poder pelo poder, o exercício dele como um fim em si mesmo. Não somos transformadores ativos, mas apenas espectadores de um mundo que nos move por inércia, puxados pelas forças megalomaníacas do sistema. É por isso que digo que não nos foi dada a permissão de participar: nossa vontade é minada e suprimida, nossas ideias são ignoradas e caladas. Temos apenas o direito de concordar e obedecer. Em toda a história dos seres humanos na terra, o que mudou a história foram duas coisas: eventos-chave e indivíduos-chave. Nós que somos jogados na torrente das massas e arrastados por elas sempre fomos as engrenagens substituíveis do sistema. Pode soar terrível dizer isso, mas lembre-se do fato de que quando você morrer, você será contabilizado apenas como uma estatística, o mundo seguirá em frente e dentro de 3-4 gerações você será esquecido.

É por isso que eu prego neste canal a individualidade e auto-valorização acima de tudo. Você só tem uma vida e só pode ser algo completo e de valor para si mesmo. Para esse mundo você não é nada. Você está convidado a trabalhar pelo espetáculo de egos dele, mas nunca a ser um participante do palco decisivo. Para as elites você é apenas gado, para as massas você não é ninguém que tem o direito de ser diferente delas.

Acontece que como já foi dito, o medo, que é um dos instintos mais fortes está muito mais conectado com a impressão do que a certeza. Os seres humanos herdaram isso com tanta força que o medo mais ancestral da humanidade é o medo da escuridão, porque ela é a representação absoluta do desconhecido, e é por isso que a ameaça de poder é mais efetiva do que o poder em si. As divagações do nível de dimensão de alguma força soam muito mais ameaçadoras do que essa força em si, justamente porque aí existe o risco, a possibilidade da falha e da morte. A política, com seus jogos retóricos sem fim e constantes trocas de ameaças sempre operou com maestria nesse campo.
Você também pode usar isso ao seu favor. Mantenha um certo tom de mistério com seriedade dando alguns precedentes do que você é capaz e naturalmente você será respeitado, porque estará sendo temido. Doa a quem doer, as coisas são assim.
O ser humano respeita de verdade somente aquilo que ele teme, ou seja, aquilo que o ameaça.

O domínio sobre a natureza é uma das maiores ilusões do homem. Os seres humanos das épocas mais primitivas, a partir do momento que começaram a desenvolver a técnica desenvolveram o sentimento errôneo de que estavam superando as limitações do mundo natural justamente porque já não estavam mais se limitando as fortes imposições do ambiente que regem todos os outros seres vivos. Desenvolvendo a cultura, o pensamento abstrato, construindo cidades e trazendo o que chamam de "progresso" a humanidade acreditou que não era mais "selvagem", ou seja, que não agia mais pelas diretrizes naturais.
Isso não passa de um engano bem inocente. A natureza continua atuando com muita força em nós. Cada célula do nosso corpo pertence a ela e coisas como a consciência, a capacidade de abstração e reflexão, também emergiram dela. Ao devassar a natureza o ser humano não está dominando ela, está apenas dando continuação ao processo dela. A civilidade talvez não seja o afastamento total do que é o mundo natural, mas a sua expressão máxima, porque é justamente por trás das máscaras dos caráteres desse tipo que encontramos o máximo de orgulho narcísico, podridão e perversidade, que são o reflexo completo da bestialidade e selvageria, ou seja, o que é em essência o mundo natural.

A ideia de vencer na vida é no fim das contas uma busca pela confirmação de um valor que existe em si mesmo e toda necessidade de demonstrar isso é pelas incertezas que se tem de si, onde a confirmação de terceiros ou até mesmo a mera impressão deles, são uma corroboração dessa conclusão, principalmente se ela ainda for dúbia. E isso é tão importante porque ver o valor em si mesmo é o que dá o significado tanto existencial quanto do direito auto-imposto a ter uma boa vida. E também de uma boa morte. É por isso que aqueles que fazem grandes conquistas e sabem e estão certos dos seus potenciais vivem tomados por uma tranquilidade e morrem com um sorriso no semblante, transmitindo uma sensação de dever cumprido, ao passo que aqueles que nunca chegaram a tal ponto passam dia e noite tomados pela ansiedade e o desespero e quando estão no limite, seus fins se traduzem num suicídio trágico: isso é o terror da não aceitação de si mesmo, porque concluem que não tem nada que vale alguma coisa no seu próprio eu, logo, nem eles mesmos conseguem se admirar e logo, eles mesmos se veem sem validade e direito a nada.