S. Tᴏᴍᴀ́s ᴅᴇ Aǫᴜɪɴᴏ

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"A todos quantos agora sentem sede da verdade, dizemos-lhes: Ide a Tomás de Aquino."
(Papa Pio XI)
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FESTA DE PENTECOSTES
O dom do Deus altíssimo

I. Compete a uma pessoa divina ser dom e dar-se. Pois o que se doa tem aptidão e hábito, seja a respeito daquele por quem se dá, seja daquele a quem se dá; toda vez que não seria dado por alguém se não fora dele e ademais se dá a alguém para que se dê a este. Pois bem, uma pessoa divina se diz ser de alguém, ou por razão de origem, como o Filho é do Pai, ou porque alguém a tem. Possuir, dizemos do dispor livremente e usar ou desfrutar de algo a nosso alvedrio. Desse modo somente a criatura racional unida a Deus pode possuir uma pessoa divina; as demais criaturas podem ser movidas por uma pessoa divina mas não há nelas aptidão para gozar de sua possessão e usar de seu efeito. A criatura racional chega alguma vez a isso, como quando participa do Verbo divino e do Amor procedente, e pode até livremente conhecer de verdade a Deus e amá-lo como se deve.

Logo, somente a criatura racional pode possuir a uma pessoa divina. Porém não pode chegar a possuí-la deste modo por sua própria virtude. Logo, é necessário que isto se lhe seja dado do alto. Pois se diz que se nos dá o que possuímos de fora. Neste sentido compete a uma pessoa divina dar-se e ser dom.

- S. Th., Iª, q. 38, a. 1

II. O Espírito Santo é um dom de Deus. Pois como o Espírito Santo procede pelo modo de amor com que Deus se ama a si mesmo, e como Deus pelo mesmo amor se ama a si mesmo, e às outras criaturas por causa de sua bondade mesma, é evidente que o amor com que Deus nos ama corresponde ao Espírito Santo, como também o amor com que amamos a Deus, dado que nos faz amadores de Deus.

Quanto a ambos amores convém ao Espírito Santo o ser dado.

1° Por razão do amor com que Deus nos ama, da mesma maneira que dizemos de alguém que dá seu amor a outro quando começa a amar-lhe. Ainda que Deus não comece a amar a ninguém no tempo, quando o atrai a si.

2° Por razão do amor com que nós amamos a Deus, pois este amor o Espírito Santo o faz em nós; donde se segue que pelo que a este amor se refere Ele habita em nós e nós o temos a Ele como a alguém de cuja riqueza gozamos.

E posto que provém o Espírito Santo do Pai e do Filho o que pelo amor que obra em nós esteja em nós e seja possuído por nós, diz-se com razão que nos é dado pelo Pai e pelo Filho. Diz-se também que o mesmo se nos dá a nós enquanto que o amor pelo qual habita em nós Ele o faz em nós juntamente com o Pai e o Filho.

- Contra Gentiles, IV, 23.

III. O nome próprio do Espírito Santo é dom. Entende-se por dom aquele que se dá para não ser devolvido, quer dizer, o que não se dá com idéia de retribuição. Daqui que brota a idéia de doação gratuita, cuja razão de ser é o amor. Pois quando damos algo gratuitamente a outro é porque lhe desejamos algum bem. Logo, o primeiro que lhe damos é o amor com que lhe desejamos algum bem. Donde se segue que o amor tem caráter de primeiro dom, pelo qual são dados todos os dons gratuitos. Se, pois, o Espírito Santo procede como amor, segue que procede como primeiro dom. Por conseguinte, por este dom que é o Espírito Santo, os membros de Cristo recebem muitos outros dons.

-S. Th., Iª, q. 38, a. 2

Meditações de Santo Tomás de Aquino

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Sábado santo: Utilidade da descida de Cristo aos infernos.

Da descida de Cristo aos infernos podemos tirar quatro ensinamentos para nossa instrução.

  1. — Primeiro, uma firme esperança em Deus, pois quando quer que o homem esteja em aflição, deve sempre esperar do auxílio divino e nele confiar. Nada há de mais sério do que cair no inferno. Se portanto Cristo libertou os que estavam nos infernos, cada um, se é de fato amigo de Deus,deve muito confiar para que Ele o liberte de qualquer angústia. Lê-se:
    "Esta (isto é, a sabedoria) não abandonou o justo que foi vencido (...) desceu com ele na fossa, e na prisão o não abandonou" (Sb 10, 13-14). Como Deus auxilia aos seus servos de um modo todo especial, aquele que O serve deve estar sempre muito seguro. Lê-se: "O que teme ao Senhor por nada trepidará e nada temerá por que Ele é a sua esperança" (Ecl 39, 16).

  2. — Segundo, devemos despertar em nós o temor, e de nós afastar a presunção. Pois, apesar de Cristo ter suportado a paixão pelos pecadores, e ter descido aos infernos, não libertou a todos, mas somente àqueles que estavam sem pecado mortal, como acima foi dito. Aqueles que morreram em pecado mortal, deixou-os abandonados. Por isso, ninguém que desça de lá com pecado mortal espere perdão. Mas ficarão no inferno o tempo em que os Santos Patriarcas estiverem no Paraíso, isto é, para toda a eternidade. Lê-se em São Mateus: "Irão os malditos para o suplício eterno, os justos, porém,para o Paraíso" (Mt 25,46).

  3. — Terceiro, devemos viver atentos,porque se Cristo desceu aos infernos para a nossa salvação, também nós devemos com solicitude lá descer em espírito, meditando sobre às penas nele existentes, imitando o Santo Ezequias, que dizia: "Irão os malditos para o suplício eterno, os justos, porém,para o Paraíso" (Is 38, 10).

Desse modo, aquele que em vida vai lá pela meditação, não descerá facilmente para o inferno na morte, porque essa meditação afasta do pecado.

Aos vermos como os homens deste mundo evitam as más ações por temor das penas temporais, como não deveriam eles muito mais se resguardarem do pecado por causa das penas do inferno, que são muito mais longas, mais cruéis e mais numerosas? Eis porque lê-se nas Escrituras: "Lembra-te dos teus últimos dias, e não pecarás para sempre" (Ecl 7, 40).

  1. — O quarto ensinamento tirado da descida de Cristo aos infernos, é nos ter Ele oferecido um exemplo de amor. Cristo desceu aos infernos para libertar os seus. Devemos também nós lá descer pela meditação, para auxiliar os nossos. Eles, por si mesmos, nada podem conseguir. Nós é que devemos ir em socorro dos que estão no purgatório. Se alguém não quisesse socorrer um ente querido que estivesse na prisão, como isso nos pareceria cruel! No entanto, seria muito mais cruel aquele que não viesse em socorro do amigo que está no purgatório, pois não há comparação entre as penas deste mundo e aquelas. Lê-se a esse respeito: "Tende piedade de mim, tende piedade de mim, pelo menos vós, ó meus amigos, porque a mão de Deus me socorre" (Jo 19, 21). — "É santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos para que sejam livres dos pecados" (Mc 19, 46).

São auxiliados os que estão no purgatório principalmente por três atos,conforme disse Agostinho: pelas Missas, pelas orações e pelas esmolas.
Gregório acrescenta um quarto: o jejum.
Não deve causar admiração que assim seja, porque também neste mundo o amigo pode satisfazer pelo amigo. A mesma coisa acontece com os que estão no purgatório.

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA. SANTO TOMÁS DE AQUINO.

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