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Mas quem quiser ser todo de Deus, quando se trata de coisas do seu agrado, faça-se violência e diga: _Perca-se tudo, contanto que se dê gosto a Deus._
Pelo mais, não há no mundo pessoa mais contente do que aquela que despreza todos os bens do mundo. Quem mais se priva de semelhantes bens, mais rico se torna de graças divinas. É assim que o Senhor soe galardoar aos que o amam fielmente.
Ó meu Jesus, Vós conheceis a minha fraqueza: prometestes socorrer a quem confia em Vós. Senhor, amo-Vos, espero em Vós, dai-me força e fazei-me todo vosso. Em vós também confio, ó minha doce Advogada, Maria.
Segunda-feira. O amor vence tudo
_Fortis est ut mors dilectio_ - "O amor é forte como a morte" (Ct 8, 6)
Sumário. _Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres do mundo; assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos os bens caducos. Queremos, pois, saber se amamos a Deus e se somos inteiramente d'Ele? Examinemos se estamos desapegados de todas as coisas terrestres. Vejamos sobretudo se já estamos desapegados de nós mesmos, pela morte do maldito amor-próprio, que quer intrometer-se mesmo nas ações mais santas._
I. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres mundanos: assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos estes bens terrestres. Por isso vemos os santos desfazerem-se de tudo quanto o mundo lhes oferecia, renunciarem às suas posses, às mais altas dignidades e retirarem-se para os desertos ou claustros, para pensarem somente em amar o seu Deus. A alma não pode deixar de amar, ou seu Criador, ou as criaturas. Desfaça-se uma alma de todo o afeto terrestre e achá-la-eis cheia do amor divino. Queremos saber se pertencemos inteiramente a Deus? Examinemo-nos se estamos desapegados de todas as coisas da terra.
Queixam-se alguns de que em todas as suas devoções, orações, comunhões, visitas ao Santíssimo Sacramento não acham Deus. Responde-lhes Santa Teresa: desprende o coração das criaturas e então busca Deus e achá-Lo-ás. Não acharás sempre doçuras espirituais, mas o Senhor te fará gozar aquela paz interior que sobrepuja todas as delícias sensitivas. Que delícia maior pode experimentar uma alma abrasada no amor divino do que em dizer: _Deus meus et omnia - "Meu Deus e meu tudo"_?
_Fortis ut mors dilectio - "O amor é forte como a morte"_. Enquanto virmos um moribundo interessado por alguma coisa terrestre, teremos a prova mais certa de que não está ainda morto, visto que a morte nos tira tudo. Quem quiser ser todo de Deus deve deixar tudo: a reserva feita de qualquer coisa prova que o amor de Deus não é perfeito, mas fraco. O amor divino, diz o Pe. Segneri Júnior, é um amável ladrão que nos tira todas as coisas terrestres. A outro servo de Deus, que tinha distribuído todos os seus bens entre os pobres, perguntou-se o que o reduzira a tal estado de pobreza. Tirou da algibeira o livro dos Evangelhos e disse: Eis aí quem me despojou de tudo. Em uma palavra, Jesus Cristo quer possuir o nosso coração todo inteiro e não sofre competidores.
II. Diz São Francisco de Sales que o puro amor divino consome tudo quanto não é Deus. Portanto, quando nasce em nosso coração qualquer afeto a alguma coisa que não seja Deus nem por Deus, preciso é arrancá-lo logo, dizendo: _Vai-te, pois para ti não há aqui lugar_. É nisto que consiste a renúncia completa, que o Salvador nos recomenda tão instantemente, se quisermos ser d'Ele sem reserva; digo renúncia completa, isto é, de qualquer coisa, e especialmente de parentes e amigos. Quantos, para agradar aos homens, deixam de fazer-se santos!
Mas sobretudo devemos renunciar a nós mesmos, triunfando do amor-próprio. Maldito amor-próprio que quer intrometer-se em tudo, até nas obras mais santas, deslumbrando-nos com a própria glória ou a própria satisfação. Quantos pregadores e escritores perdem assim todo o merecimento das suas fadigas! Muitas vezes mesmo em nossas meditações ou leituras espirituais ou mesmo em nossas santas comunhões se mistura alguma intenção menos pura, quer de sermos vistos, quer de experimentarmos as doçuras espirituais.
Devemo-nos portanto esforçar por vencer este inimigo que nos faz perder o fruto das nossas mais belas obras. Devemo-nos privar, quanto possível, daquilo que mais nos agrada: privar-nos de tal ou qual divertimento, exatamente porque nos diverte; obsequiar uma pessoa ingrata, exatamente porque é amargosa. O amor-próprio faz com que nenhuma coisa se nos afigure boa em que ele não acha a sua satisfação.
_SEGUNDA SEMANA DEPOIS DA EPIFANIA_
Domingo. Desejo que Jesus teve de sofrer por nós
_Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor, usquedum perficiatur_ - "Tenho de ser batizado com um batismo; e quão grande não é a minha ansiedade até que ele se cumpra" (Lc 12, 50)
Sumário. _Podia Jesus salvar-nos sem sofrer. Mas não; por nosso amor quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem qualquer consolação terrena. Mais, durante toda a sua vida suspirava continuamente pela hora de sua morte, a fim de ser batizado com o seu próprio sangue e limpar-nos das imundícies dos nossos pecados. Em vista de tudo isso, como poderemos deixar de amá-Lo de todo o nosso coração, e recusar-nos a sofrer alguma coisa por seu amor?_
I. Podia Jesus salvar-nos sem sofrer; mas não, quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem qualquer consolação terrestre, e uma morte toda amargosa e desolada, unicamente para nos fazer compreender o amor que nos tinha e o seu desejo de ser amado por nós. Durante toda a sua vida Jesus suspirava pela hora da morte, que Ele desejava oferecer a Deus a fim de obter para nós a salvação eterna. É este o desejo que o fazia dizer: _Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor, usquedum perficiatur - "Tenho de ser batizado com um batismo; e quão grande não é a minha ansiedade até que ele se cumpra!"_. Jesus desejava ser batizado com o seu próprio sangue, para expiar, não os pecados próprios, senão os nossos. Ó amor infinito! Infeliz de quem não Vos conhece e não Vos ama.
Foi esse mesmo desejo que na véspera de sua morte Lhe inspirou estas palavras: _Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum (Lc 22, 15) "Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa convosco"_. Falando assim, demonstrou que em toda a sua vida não tivera outro desejo, a não ser o de ver chegado o tempo de sua paixão e morte, a fim de patentear ao homem o amor imenso que lhe tinha. É, pois, verdade, ó meu Jesus, almejais o nosso amor com tamanha veemência, que para o ganhardes não recusastes a morte! Como poderei negar alguma coisa a um Deus que por meu amor deu o seu sangue e a sua vida?
II. Diz São Boaventura que causa pasmo ver um Deus padecer por amor dos homens; mas que mais pasmo causa ver homens que contemplam um Deus que sofre por amor deles, que se fez criança e está tiritando de frio numa gruta, que vive como pobre oficial numa humilde loja e afinal morre como um réu, sobre a cruz, e todavia não ardem de amor para com um Deus tão amante, ou mesmo chegam a desprezar o amor divino por amor dos vis prazeres da terra: como é possível que um Deus ame tanto os homens, e que estes, tão gratos aliás para com seus semelhantes, sejam tão ingratos para com Deus?
Ah! Jesus meu, eu também tenho sido do número destes ingratos. Dizei-me: como pudestes aceitar tantos sofrimentos por meu amor, apesar da previsão das injúrias que Vos havia de fazer? Mas já que me tendes suportado e me quereis ver salvo, dai-me uma grande dor dos meus pecados, uma dor proporcionada à minha ingratidão. Abomino e detesto sinceramente todos os desgostos que Vos tenho causado. Se em tempos passados desprezei a vossa graça, agora estimo-a acima de todos os reinos da terra.
Amo-Vos de toda a minha alma, ó Deus de infinito amor, e desejo viver unicamente para Vos amar. Abrasai-me mais, e dai-me mais amor. Lembrai-me sempre o amor que me tendes dedicado, a fim de que o meu coração esteja sempre abrasado em vosso amor, assim como o vosso ardia no meu amor. Ó Coração amante de Maria, acendei em meu pobre coração o fogo do santo amor.
Vós, que sois a Sede da sabedoria, iluminai os espíritos tristemente envoltos nas trevas da ignorância e do pecado, a fim de que reconheçam claramente que a santa Igreja católica, apostólica, romana é a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo, fora da qual não há santidade nem salvação. Completai a sua conversão impetrando-lhes a graça de abraçar qualquer verdade da santa fé, e de submeter-se ao Sumo Pontífice Romano, Vigário de Jesus Cristo na terra, a fim de que, estando em breve todos unidos conosco pelos doces laços do divino amor, haja um só rebanho, debaixo do mesmo único Pastor, e possamos todos, ó Virgem gloriosa, cantar com alegria na eternidade: _Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo - "Alegrai-vos, ó Virgem Maria, porque vós só derrotastes todas as heresias no mundo universo”¹⁴._
14) Indulgência de 300 dias para quem reza esta oração, acrescentando-lhes três Ave-Marias.
Sábado. Maria Santíssima, modelo de fé
_Beata quae credidisti, quoniam perficientur ea, quae dicta sunt tibi a Domino_ - "Bem-aventurada és tu, que creste, porque se hão de cumprir as coisas que te foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 15)
Sumário. _Maria Santíssima teve fé tão viva, que excedeu a de todos os homens e de todos os anjos, porquanto viu Jesus Cristo sujeito a todas as misérias humanas e sempre o reconheceu por seu Deus verdadeiro. Se quisermos ser dignos filhos da divina Mãe, imitemo-la nesta virtude como em todas as demais. Exercitemo-nos em fazer contínuos atos de fé e vivamos segundo as verdades da nossa fé: porque a fé sem as obras é morta._
I. Assim como a Bem-aventurada Virgem é modelo de amor e de esperança, assim também é modelo de fé, pois que, diz Santo Irineu, aquele dano que Eva fez com a sua incredulidade, Maria o reparou com a sua fé. Com efeito, Eva, porque quis dar crédito à serpente contra aquilo que Deus tinha dito, trouxe a morte; mas a nossa Rainha, dando crédito às palavras do anjo, que ela, ficando Virgem, devia fazer-se Mãe do Senhor, trouxe ao mundo a salvação. Exatamente por causa da sua fé é chamada bem-aventurada por Santa Isabel: _Beata quae credidisti - "Bem-aventurada és tu porque creste"._
Diz o Padre Suárez, que a Santíssima Virgem teve mais fé que todos os homens e todos os anjos. Via o seu Filho no presépio de Belém e cria que Ele era o Criador do mundo. Via-O fugir de Herodes e não deixava de crer que era o Rei dos reis. Via-O nascer, e O cria eterno. Via-O pobre e necessitado de alimento, e O cria Senhor do universo; deitado sobre a palha, e O cria onipotente. Observava que não falava e cria que era a Sabedoria infinita. Ouvia-O chorar e cria que era a alegria do paraíso, Via-O, finalmente, na morte vilipendiado e crucificado e bem que nos outros vacilasse a fé, Maria estava firme em crer que Ele era Deus. É por esta razão, diz Santo Antônio, que no Ofício das Trevas só se deixa uma vela acesa e São Leão, a este propósito, aplica à Virgem esta passagem: _Non extinguetur in nocte lucerna eius (Pr 31, 18) - “A sua lâmpada não se apagará de noite"._
Maria Santíssima, pela sua grande fé, mereceu ser feita a Luz de todos os fiéis, como é chamada por São Metódio: _Fidelium fax_. E São Cirilo de Alexandria a chama Rainha da verdadeira fé: _Sceptrum orthodoxae fidei_. A mesma Igreja atribui à Virgem, pelo merecimento de sua fé, a derrota de todas as heresias: _Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo_ (Off. B. M. V.).
II. Exorta-nos Santo Ildefonso: _Imitamini signaculum fidei Mariae - "Imitai a fé insigne de Maria"_. Mas como havemos de imitá-la? A fé é ao mesmo tempo dom e virtude. É dom de Deus, enquanto é uma luz, que Deus infunde na alma. É virtude, quanto ao exercício que dela faz a alma. Por isso a fé não só nos há de servir de regra para crer, mas também para obrar, porquanto, como diz São Gregório: Crê verdadeiramente aquele que põe em prática as verdades que a fé lhe ensina. É isto ter uma fé viva, o viver segundo se crê, assim como, no dizer do Apóstolo, cada justo deve viver: _Iustus autem meus ex fide vivit (Hb 10, 38) - "O meu justo vive pela fé"._
Assim viveu a Santíssima Virgem e assim nós também, à imitação dela, devemos viver, com diferença daqueles que não vivem segundo aquilo que creem, cuja fé é morta, como diz São Tiago (Tg 2, 26). E por isso roguemos à divina Mãe, que pelo merecimento de sua fé nos alcance uma fé viva: _Domina, adauge nobis fidem "Senhora, aumentai-nos a fé"_. Ao mesmo tempo, exercitemo-nos em fazermos frequentes atos de fé, unindo-os aos da Santa Virgem. Roguemos também por tantos nossos irmãos infelizes, que vivem fora da Igreja Católica.
"Ó Maria, Mãe de misericórdia e Refúgio dos pecadores, súplices vos rogamos que lanceis um olhar benigno sobre os povos hereges e cismáticos.
Dai-me um coração amante da oração, que goste de entregar-se frequentemente a este santo exercício; e tenha só um desejo, o de ver Deus conhecido, amado e louvado de todas as criaturas; um coração no qual nada desagrade, senão ver Deus ofendido; que nada odeie senão o pecado; que não tenha outro desejo no mundo senão o de promover a glória de Deus e a salvação do próximo. Dai-me um coração reconhecido, que nunca se esqueça dos benefícios divinos e saiba sempre estimá-los devidamente; um coração forte e corajoso, que não tenha medo de mal algum e suporte tudo por amor do seu Deus; um coração benéfico para com todos os necessitados e cheio de compaixão das almas do purgatório; finalmente um coração perfeitamente regrado, cujas alegrias e tristezas, repugnâncias e desejos, movimentos e aspirações sejam todas conformes com a vontade divina. Numa palavra, dai-me, ó meu Jesus, um coração todo semelhante ao vosso. Fazei-o pelo amor de vossa e minha querida Mãe Maria santíssima" (Oração de São Clemente Maria Hofbauer, C.Ss.R.).
Quinta-feira. Exemplos que nos dá Jesus Menino
_Erunt oculi tui videntes praeceptorem tuum_ - "Os teus olhos estarão vendo o teu mestre" (Is 30, 20)
Sumário. _Quantos belos exemplos nos dá Jesus Cristo durante todo o tempo da sua infância! Exemplos de submissão à vontade divina, de pobreza, de humildade, de mansidão, de obediência; exemplos de mortificação, de amor à cruz, de recolhimento e de oração; uma palavra, exemplos de todas as mais belas virtudes. Esforcemo-nos por imitá-Lo, custe o que custar e imaginemos que lá de cima, da Gruta de Belém, o Pai Eterno nos diz: Se não vos fizerdes semelhantes a este meu amado Filho, feito menino por vosso amor, não entrareis no Reino dos céus._
I. Tendo o Pai Eterno decretado que o Verbo divino se fizesse homem para operar a nossa Redenção, podia Jesus Cristo tomar um corpo glorioso, ou de homem perfeito, como Adão, sem que ficasse sujeito a todas as fraquezas e misérias próprias da infância. Não obstante isso, para nosso ensinamento e maior proveito, quis nascer criança como nós, a fim de que, vendo-O em tudo nosso semelhante, nos sintamos com mais estímulo de imitá-Lo e fazer-nos semelhantes a Ele.
Oh! Que exemplos tão numerosos de virtudes nos deu o divino Menino durante toda a sua infância, se quisermos aproveitá-los! Exemplos de amor para com seu Pai e de submissão à vontade divina. Vede, como Jesus, apenas nascido e, conforme diz o Apóstolo, no seu primeiro ingresso no mundo, inclina humildemente a cabeça, adora respeitosamente a Deus Pai e protesta que está pronto a fazer-Lhe em tudo a santíssima vontade: _Ecce venio, ut faciam, Deus, voluntatem tuam (Hb 10, 9) - "Eis que venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade"._
Exemplos de pobreza e de castidade: escolhendo para mãe uma virgem; para guarda, um homem castíssimo; para sua corte, uns pastores inocentes. Quer que tudo ao redor d'Ele seja indigência e miséria: _Propter vos egemus factus est (2Cor 8, 9) "Para vós Ele se fez pobre"._ Exemplos de mansidão, de humildade e de obediência. Podia castigar instantaneamente ao ímpio Herodes, que o persegue à morte, mas demora o castigo, e entretanto subtrai-se à sanha do rei por meio de uma fuga humilhante para o Egito, onde vive obediente a qualquer aceno de José e Maria: _Et erat subditus illis (Lc 2, 51) - "E estava-lhes sujeito"._
Finalmente Jesus nos dá exemplos de _mortificação_, de _abnegação_ própria, de _amor de cruz_, e sobretudo de _recolhimento_ e de _oração_. Passa todos os seus dias nas mais duras privações e santifica o trabalho pelo silêncio e pela oração. De sorte que desde então se Lhe pode aplicar o que depois disse o Evangelista: _Erat pernoctans in oratione (Lc 6, 12) - "Passava as noites em oração"._ Felizes de nós se soubermos imitar os exemplos do santo Menino Jesus!
II. Imaginemos que Deus Pai lá de cima da Gruta de Belém nos diz o que Jesus Cristo mesmo disse mais tarde a seus discípulos: _Nisi efficiamini sicut parvulus iste, non intrabitis in regnum coelorum (Mt 18, 3) - "Se não vos fizerdes como este menino, não entrarei no Reino dos céus"._ Se não vos fizerdes semelhantes a este meu Filho, feito criança por vosso amor, não entrareis no Reino dos céus. Examinemos, pois, a nossa consciência, e se infelizmente acharmos que nos tempos passados pouco ou nada temos imitado os exemplos do santo Menino, tomemos uma resolução firme de fazê-lo ao menos para o futuro.
"Ó dulcíssimo Jesus, como estou envergonhado de me ver tão diferente de Vós! Mas já que acolheis os maiores pecadores, quando se convertem, fazei que de hoje em diante não seja mais assim. Dai-me, ó Senhor, assim como fizestes para com todos os pecadores arrependidos, um coração semelhante ao vosso. Dai-me um coração humilde, amante da vida oculta e desprezada, ainda no meio das honras terrestres; um coração paciente, resignado em todas as contrariedades, por mais penosas que sejam; um coração pacífico, que guarde sempre uma inalterável paz com o próximo e consigo mesmo.
Segunda-feira. Fim do homem
_Deum time, et mandata eins observa: hoc est enim omnis homo_ - “Teme a Deus e observa os seus mandamentos; porque isto é o tudo do homem" (Ecl 12, 13)
Sumário. _Não temos nascido, nem devemos viver para gozarmos, para nos fazermos ricos e potentes, senão unicamente para amarmos a Deus e nos salvarmos para sempre. Todavia, este grande fim da nossa existência é o mais descuidado pelos homens, que em tudo pensam exceto na salvação da alma. Nós ao menos não sejamos tão insensatos e consideremos seriamente que tudo que se faz, se diz ou se pensa contra a vontade de Deus, é perdido e perdido para sempre._
I. Considera, minha alma, que o teu ser é um dom de Deus, que sem mérito algum da tua parte te criou à sua imagem. No santo Batismo adotou-te por filho; amou-te com um amor mais que paternal, e deu-te a existência, a fim de que O ames e sirvas nesta terra, para depois gozares com Ele no paraíso. Portanto, não nasceste, nem deves viver para gozares, para te fazeres rico e poderoso, para comeres, beberes e dormires, como os irracionais; mas unicamente para amares o teu Deus e te salvares para sempre. O Senhor deu-te o uso das coisas criadas, a fim de que te sirvam para atingir o teu grande fim. Ai de mim, que em tudo tenho pensado exceto no meu fim! Ó meu Pai celestial, pelo amor de Jesus Cristo, fazei que eu comece uma vida nova, toda santa e toda conforme a vossa divina vontade.
Considera também que na hora da morte terás veementes remorsos, por não te teres aplicado ao serviço de Deus. Qual será a tua aflição se no fim de teus dias perceberes que nessa hora não te resta de todas as riquezas, dignidades, glórias e prazeres senão um punhado de pó. Pasmarás que por coisas vãs e por ninharias perdeste a graça de Deus e a tua alma, sem poderes reparar o mal feito. Não haverá mais tempo para entrares no bom caminho. Ó desespero! Ó tormento! Verás então quanto vale o tempo, mas será tarde. Quererás comprá-lo pelo preço do teu sangue, mas ser-te-á impossível. Ó dia de amargura para quem não serviu e amou o seu Deus.
II. Considera quanto é descurado o último fim do homem. Pensa-se em aumento de riquezas, em banquetes, em festas, em passatempos. E ninguém se importa com o serviço de Deus, nem com a salvação da alma! O destino eterno é tido por uma bagatela e assim a maior parte dos Cristãos vai a caminho do inferno banqueteando-se, cantando e dormindo! Oxalá compreendessem o que quer dizer: inferno!
Ó homem, afadigas-te tanto para tua condenação e nada queres fazer para a tua salvação. Estava para morrer o secretário de um rei de Inglaterra e ao expirar disse: Desgraçado de mim! Tenho enchido tanto papel para escrever as cartas do meu senhor e não enchi uma única folha para me lembrar dos meus pecados e fazer uma boa confissão! Filipe III, rei de Espanha, disse na hora de sua morte: Ah! Antes houvera servido a Deus num deserto, do que sido rei!
Mas para que servirão naquela hora os gemidos e as lamentações? Servirão para maior desesperação. Aprende ao menos à custa de outros, a viveres solícito de tua salvação, se não quiseres cair no mesmo desespero. E lembra-te de que tudo o que fizeres, pensares ou disseres contrário à vontade de Deus, está perdido para a tua alma. Ânimo! Já é tempo de mudares de vida. Ou queres porventura a hora da morte para te desiludir? Quando estiveres às portas da eternidade, como que suspenso sobre o abismo do inferno, quando não houver mais tempo para reparar o erro? Ó meu Deus, perdoai-me. Amo-Vos sobre todas as coisas. Detesto os meus pecados mais do que qualquer outro mal. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.
Ó Maria, vós me fizestes achar meu Deus, que tinha perdido há tempos; obtende-me agora a santa perseverança.
"E Vós, Pai Eterno, que fizestes reluzir sabedoria celestial na humilde puerícia de vosso divino Filho, concedei-nos que nós também, cheios do espírito de prudência, mereçamos, pela sincera humildade, a vossa complacência. Fazei-o pelos merecimentos de Jesus Cristo" (Or. Eccl).
_PRIMEIRA SEMANA DEPOIS DA EPIFANIA_
Domingo depois da Epifania. Perda de Jesus no Templo
_Remansit puer lesus in Ierusalem, et non cognoverunt parentes eius - "O Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais se apercebessem"_ (Lc 2, 43)
Sumário. _Quando Jesus chegou à idade de doze anos, José e Maria levaram-No consigo a Jerusalém na solenidade de Páscoa. Por ocasião da volta, porém, Jesus ficou no Templo, sem que seus pais se apercebessem, e só foi achado ao fim de três dias de busca e de lágrimas. Aprendamos deste mistério que devemos deixar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus._
I. Escreve São Lucas que Maria e José iam todos os anos à Jerusalém na solenidade de Páscoa, e levavam consigo o Menino Jesus. Era costume entre os Israelitas, conforme diz o venerável Beda, que durante a viagem ao templo (ao menos na volta) os homens andassem separados das mulheres, ao passo que os meninos acompanhavam à vontade o pai ou a mãe. O Redentor, que então tinha doze anos, depois da solenidade, ficou três dias em Jerusalém. A Virgem-Mãe pensava que Jesus estava com José e este julgava-O na companhia de Maria. O santo Menino empregou aqueles três dias em promover a glória de seu Eterno Pai com jejuns, vigílias e orações e em assistir aos sacrifícios que eram outras tantas figuras do seu próprio sacrifício da Cruz. Para ter algum alimento, diz São Bernardo, foi-lhe mister pedi-lo por esmola, e para descansar não tinha outro leito senão a terra nua.
Quando, à noite, Maria e José se encontraram na pousada, não achavam o seu Jesus, e com suma aflição se puseram a procurá-Lo entre os parentes e amigos. Voltando depois a Jerusalém, acharam-No finalmente, ao terceiro dia, no Templo, disputando entre os doutores, que pasmados admiravam as perguntas e respostas daquele menino extraordinário. Nesta terra não há pena que se possa comparar àquela que uma alma, desejosa de amar a Jesus, experimenta quando teme que por qualquer culpa d'Ele se tenha afastado. Foi esta a dor exatamente de Maria e José naqueles dias, porquanto a sua humildade, diz o devoto Lanspergio, fazia-lhes crer que se tornaram indignos de ter sob sua guarda um tão grande tesouro. É por isso que Maria, encontrando o Filho, a fim de Lhe exprimir a sua dor, disse: “Filho, porque fizeste assim conosco? Sabe que teu pai e eu te andamos buscando cheios de aflição". E Jesus respondeu: "Por que é que me buscáveis? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas de meu Pai?".
Tiremos do presente mistério dois ensinos. Primeiro, que devemos abandonar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus. Segundo, que Deus se deixa achar por quem o busca. _Bonus est Dominus animae quaerenti illum (Lm 3, 25) - "O Senhor é bom para a alma que o busca"._
II. Ó Maria, vós chorais por terdes perdido vosso Filho uns poucos dias. Afastou-se Ele da vossa vida, mas não do vosso coração. Não vos lembrais que o amor tão puro com que O amais, O faz estreitamente unido convosco? Vós bem sabeis que quem ama a Deus, não pode deixar de ser amado de Deus, que diz: _Ego diligentes me diligo (Pr 8, 17) - "Eu amo os que me amam"_. Por que, pois, temeis? Por que chorais? Deixai que eu chore, que tantas vezes e por minha culpa tenho perdido meu Deus, expulsando-O da minha alma.
Ah! Meu Jesus, como pude ofender-Vos de olhos abertos, sabendo que pelo pecado Vos ia perder? Mas não quereis que o coração que Vos busca desespere, senão que se regozije: _Laetetur cor quaerentium Dominum_ (Sl 104, 3). Se em outros tempos Vos abandonei, ó Amor meu, agora Vos busco, e não quero senão a Vós. Para possuir a vossa graça, renuncio a todos os bens e prazeres da terra, renuncio até a própria vida. Vós dissestes que amais a quem Vos ama: amo-Vos, e amai-me Vós também. Estimo mais a posse do vosso amor, do que o domínio sobre o mundo inteiro. Jesus meu, não quero mais perder-Vos; mas não posso confiar em mim mesmo; confio tão somente em Vós. Por piedade, uni-me estreitamente convosco e não permitais que ainda venha separar-me de Vós.
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