Olhem queridos amargos, um canal novinho em folha.

Sempre sonhei que um dia encontraria alguém como eu, alguém que também tivesse medo e com esse medo seus pés o levaria até mim. Sempre sonhei que em nossas diferenças encontraríamos brechas minúsculas e nos rastejaríamos entre elas para se infiltrar um no coração do outro. Tive essa convicção de que encontraria assim como eu, um filho de nenhum pai, que desejasse apenas um lar, um lar comigo. Um lar seguro, silencioso, aconchegante. Gostaria de estar rodeado por pequenas coisas, nos armários, nas estantes. Eu queria encher a casa e depois encher seu cérebro e queria que ele enchesse o meu e nos encontrássemos em nossa própria estranheza e singularidade, como se amar fosse assim, fosse se identificar, se sentir aceito e entendido.
Esses sonhos bobos são anotados em folhas que vão para debaixo do meu colchão. Só eu li e talvez um par de olhos espirituais que residem nas paredes, talvez as lágrimas sobre o papel, essas coisas e a caneta. Eu queria ver o lado bom da coisa.

E acho que eu mereço um pouco de paz.

Mas pra preservar o canal,eu destruí outras partes da minha vida.

Eu tentei e muito fingir que não, eu adoro escrever, essa é a única coisa permanente e certa que eu tenho na vida, a escrita e esse canal.

E eu sinto que de um tempo pra cá, o canal tem acentuado e muito essas questões que me gatilham e fazem eu me desequilibrar.

Além do mais, vocês sabem que eu não sou completamente certo da cabeça.