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Nunca um chavão político foi mais falso do que o do Tiririca: "Pior do que tá não fica". A política brasileira piorou vertiginosamente, como um trem desgovernado, desde 2010 (quando a frase foi enunciada).
E o Pablo Marçal exemplifica perfeitamente essa piora.
E se estamos falando de uma piora generalizada, Marçal não é nenhuma exceção, somente paradigma. Porque ele é, de fato, a cara da democracia liberal brasileira. E eu diria, inclusive, que muitos outros políticos não gostam do Marçal apenas por ele tratar a política eleitoral liberal-democrática abertamente como aquilo que ela é.
Não obstante, Marçal jamais seria nem mesmo cogitado como figura política em nosso país em épocas em que, pelo menos, se entendia que os cargos políticos deveriam ser ocupados por pessoas capazes de se portar com dignidade e gravidade.
Aqui estamos diante de uma categoria de pessoa que vive para a sofística. Tudo é sempre um esforço de "vender" algo para alguém. E esse tipo de espírito específico quase sempre envolve convencer as pessoas a pagar mais que o preço justo para receber menos que o prometido de algo de que elas nem precisam.
Para os modernos, talvez uma virtude. Mas nas sociedades tradicionais isso representa um conjunto de habilidades típicas daqueles que seriam considerados e tratados como párias, vistos como adequados para participar das bufonarias e prestidigitações de companhias artísticas itinerantes.
Se poucas pessoas realmente votavam em Lula ou Bolsonaro ou na maioria dos políticos brasileiros por causa dos seus programas (no máximo, votavam por uma pauta que associavam, veramente ou não, ao político), não dá para dizer que alguém realmente pretenda votar no Pablo Marçal por causa de algum "programa".
Primeiro porque Marçal nem mesmo tem programa. Ele tem algumas opiniões desconexas e inconstantes sobre algumas questões. Opiniões, porém, que não passam de um esforço sofístico de dizer aquilo que o seu "público" (no caso, os bolsonaristas) quer ouvir.
Porque na prática não vai muito além disso. Temos aí alguém que venderia gelo para pinguins "jogando para a galera" com um público que, especificamente, gosta de ser ludibriado por causa de sua profunda carência político-afetiva. Na verdade, a sua biografia de golpes e falcatruas pretéritas me recorda, também, as biografias de certos líderes de seitas e outros personagens do tipo.
Mas o que é a democracia liberal senão, precisamente, aquilo que Marçal oferece?
Eleições nas democracias liberais são sobre carisma e personalidades, não sobre projetos. Debates políticos não são enfrentamentos dialéticos de homens buscando a verdade, mas duelos erísticos para coroar o melhor sofista.
Marçal reduziu a política demo-liberal aos seus fundamentos concretos, e entende, de maneira puramente técnica, os mecanismos necessários para ganhar votos sob esse modelo político.
O seu conhecimento de psicologia das massas, típico de coaches de sucesso, se encaixa perfeitamente para lidar com a massa eleitoral que não é, na média, mais inteligente que o seguidor de coaches.
Em suma, Marçal é a perfeita encarnação da democracia liberal na era do QI 83. Ele oferece precisamente aquilo que uma parte considerável da população quer: o menor denominador comum, no que concerne basicamente qualquer uma das virtudes clássicas.
Independentemente de qual seja o resultado das eleições para prefeito de São Paulo, não se surpreendam se a ambição política de Marçal não parar por aí e ele, de fato, algum dia, conseguir se tornar presidente.
Ele é, precisamente, o tipo de líder que o Brasil de hoje merece.
Completo desconhecimento do assunto. A senhoriagem não diz respeito à autoridade monetária, mas à emissão de moeda, pois é a receita obtida pelo Estado a partir da emissão de moeda – formalmente, a variação da base monetária (M1 ou M2) descontando-se os custos de emissão/produção e a inflação do período observado. Além disso, vemos aqui que todo liberal que defende essa PEC está defendendo a impressão de dinheiro (“inflação!!”, como eles mesmos dizem) para financiar as atividades do Banco Central.
O problema maior, porém, vem das peculiaridades do nosso sistema financeiro. Destarte, o Brasil é, de longe, o país que mais utiliza operações compromissadas ou similares, e um dos que mais faz rolagem da dívida, devido, em grande parte às operações de curtíssimo prazo. Não obstante, as reservas bancárias no Brasil são remuneradas, justamente devido ao uso excessivo das compromissadas como mecanismo de controle da taxa de juros. Ou seja: a moeda rende juros.
Há, também, a implicação óbvia advinda da própria justificativa da proposta: ao se colocar a senhoriagem (ou operações compromissadas, de redesconto, swaps cambiais, ou qualquer outro meio que seja) como forma principal de financiamento do Bacen, qual será a atuação da empresa? O Banco Central agirá para cumprir seus objetivos – assegurar a estabilidade de preços, zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego – definidos pela própria Lei Complementar nº 179/2021, que instituiu a “independência” da autarquia; ou para maximizar suas receitas? É bem evidente que as duas situações não se sobrepõem perfeitamente (eu diria que são praticamente opostas), porém a PEC não menciona esta questão, possivelmente porque seus autores sequer raciocinaram sobre.
E quem se beneficiaria com a aprovação desta emenda? Certamente não o Povo, nem o Estado. Apenas os banqueiros, rentistas e congressistas têm algo a ganhar com esta PEC: seja dinheiro, poder ou ambos.
A PEC 65/2023, ao propor uma autonomia orçamentária para o Banco Central, levanta questões fundamentais sobre a relação entre Estado, Povo e o mercado financeiro. Em um cenário onde o Bacen poderia atuar para ganhos próprios em detrimento de suas funções e do bem comum, o conflito de interesses se torna eminente. Mais do que “modernizar” a instituição, a proposta parece servir a interesses específicos, negligenciando os diversos prejuízos para os trabalhadores comuns e para a Presidência da República – posição democrática por excelência.
Num momento de desdolarização, de organizações alternativas, de consolidação e expansão dos BRICS, de questionamento da unipolaridade e de ascensão (ou retorno, como bem pontuado pelo estes dias) da multipolaridade, nos alinharmos às práticas financeiras e político-institucionais do Ocidente é um erro estratégico e geopolítico, extremamente contraproducente. Precisamos reafirmar a nossa soberania, não entregá-la numa bandeja de prata. Se, de acordo com Campos Neto, quase todos os Bancos Centrais mundo afora que são independentes (leia-se: submissos às exigências do mercado) também têm autonomia orçamentária, que seja: então nosso Bacen voltará a ser 100% dependente do Estado, como nunca deveria ter deixado de ser.
Autonomia Orçamentária do Banco Central e a Soberania Nacional
Após 3 anos de autonomia administrativa, a relação entre o Banco Central e a União volta ao debate com a PEC 65/2023, que propõe autonomia técnica e orçamentária, transformando a autarquia em empresa pública sob “supervisão” do Congresso Nacional.
A motivação por trás da proposta é digna de uma uma república de banana: segundo Campos Neto, que tem se manifestado publicamente a favor da PEC, tal mudança é um “passo natural”, essencial para a “modernização” do Bacen, e que “90% dos demais países que possuem um Banco Central independente também têm autonomia orçamentária” (sic). Em miúdos: o sistema financeiro internacional gosta assim e o Ocidente faz dessa forma, então, como bons vassalos dos senhores do mundo, devemos acatar às suas ordens.
A mudança de hierarquia, colocando o Bacen sob “tutela” do Congresso, mostra uma clara tentativa de parlamentarização do Brasil, esvaziando o Executivo e enfraquecendo a Presidência da República. É uma situação tenebrosa. Na prática, já vivemos em um sistema misto de parlamentarismo acanhado e juristocracia. Tirar do Poder Executivo a autarquia responsável pelas políticas monetária e cambial – ainda que, na prática, o Bacen já seja independente desde 2021 – é um ataque à própria Constituição.
A Advocacia-Geral da União (AGU), o Sindicato Nacional dos Funcionário do Banco Central (SINAL) e o Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF (Sindsep-DF), entre outros, se manifestaram (com razão), contrários à PEC. Entre os problemas apontados estão: 1) os servidores atuais terão nenhuma garantia de seus direitos, e os que estão se aposentando ou já aposentados podem perder seus benefícios por mero ato interministerial; 2) o texto da PEC concede poderes e prerrogativas excessivas, com a possibilidade até de multar instituições, indo muito além das obrigações de uma empresa pública; 3) o Banco Central opera com recursos que são patrimônio do Povo Brasileiro; e 4) como muito bem apontado pela SINAL: “não há como ignorar sua condição fundamental [do Bacen] de instituição típica de Estado, incompatível com a sua transformação em empresa pública”.
Pois bem, vamos à questão dos recursos públicos utilizados pelo Bacen. O principal instrumento de política monetária hoje no Brasil são as operações compromissadas – compra e venda de títulos públicos junto ao mercado com compromisso de revenda/recompra futura no curtíssimo prazo, geralmente overnight (um dia útil).
Através dessa operações, junto a outros mecanismos, o Bacen intervém para que os juros se mantenham no patamar estabelecido pelo Copom para a SELIC (atualmente em 10,5%), e os bancos utilizam as operações compromissadas principalmente como forma de diluir risco. Com risco quase inexistente, rendem em juros o valor da SELIC em relação ao seu colateral, os títulos públicos. Investimento altamente lucrativo e de risco zero. O sonho de todo rentista. O valor movimentado em operações compromissadas é, em média, R$2 trilhões por dia.
Com tamanho montante em títulos da dívida utilizados pelo Banco Central, é impossível argumentar que não há um componente monetário como parte relevante da dívida pública do Brasil. Ou seja: controlar o componente fiscal, seja por gastos ou tributação não é suficiente para “estabilizar” a dívida. Um Banco Central com orçamento independente e desatrelado do Executivo resultará em mais motivos de disputa na eterna queda de braço entre Congresso Nacional e Presidência da República. Que vantagens ou ganhos temos para o Brasil ou o nosso sistema financeiro? Nenhum.
De acordo com a justificativa da PEC, os autores que “o centro da proposta consiste no uso de receitas de senhoriagem para o financiamento de suas despesas. Entende-se aqui por senhoriagem o custo de oportunidade do setor privado em deter moeda comparativamente a outros ativos que rendem juros.” Afirmam, também, que o uso da receita de senhoriagem (sic) para financiamento das atividades do Banco Central está alinhado a procedimentos adotados em países “centrais” do mundo (sic).
O legado familiar dos que não são ricos
Existe, entre os setores "esclarecidos" da esquerda progressista, a pressuposição de que o pobre não tem, não pode ter e não deve ter nada do que se orgulhar em relação à sua família, seu passado e suas origens.
Isso é visível, por exemplo, nos comentários debochados e irônicos de progressistas cosmopolitas que acham absurdo que pessoas de certa parte do Brasil tenham orgulho de suas origens étnicas já que seus antepassados teriam sido "esfomeados" e "miseráveis".
Além disso ter um certo viés racista, essa crítica de esquerda não demonstra senão o profundo grau de "socialização burguesa" da mentalidade progressista média, já que para esse tipo de gente só se pode sentir orgulho, excepcionalmente, do acúmulo de posses. O pobre está fadado a andar cabisbaixo olhando para o chão e a amaldiçoar diariamente a própria existência, entregando-se ao niilismo (exceto em dia de eleição, quando ele deve judiciosamente sair de casa para demonstrar seu "engajamento" político).
Naturalmente, a essa posição também está associada aquela que diz que você não deve se orgulhar de nada que tenha sido feito por seus antepassados, apenas por aquilo que você mesmo conquistou. O pensamento por trás disso é um de ruptura absoluta entre as correntes multigeracionais. Negando a herança biológica, psicológica e cultural que a família existe para transmitir e assegurar, essa mentalidade prega o individualismo mais grosseiro e dissolvente.
Na mesma linha vai um comentário que teve uma certa repercussão aqui nas redes sociais hoje, em que uma pessoa comentava sobre uma suposta "obsessão" que alguns teriam com "legado familiar", ridicularizando a ideia de que um proletário de uma pequena cidade do interior poderia pensar em "legado".
Como um conjunto, temos aí a mentalidade típica de homens-animais, de seres humanos mais semelhantes a vira-latas do que, de fato, a pessoas. Sem paternidade definida, sem lar fixo, sem história transmitida entre as gerações, sem absolutamente nada exceto a mais absoluta instabilidade existencial. Situação característica do Kali Yuga em sua fase atual, a do Quinto Estado (a era dos párias), ou do Último Homem, tal como descrito por Nietzsche.
Diante desse tipo de reflexão alegremente estúpida ("não temos legado, não precisamos de legado e não devemos ter legado") me recordo de uma família em Guaramirim que desde os anos 50 mantém uma tradição de se vestir de Papai Noel, simplesmente pelo "acaso" do sobrenome da família. Algo simples, inócuo, casual, não obstante eis aí um legado. Em Pernambuco, a família Valença preserva uma tradição de mais de 1 século de um presépio.
Ou a família Simões Pires, que há 200 anos mantém aceso um fogo de chão em São Sepé, no Pampa gaúcho. E o reisado da família Ramos, de Ipueira da Vaca, no Ceará, reencenado há 90 anos. Todo pequeno negócio familiar que já passou por pelo menos 2 gerações se encaixa nessa lógica também - especialmente os restaurantes, que não raro possuem receitas secretas, por mais humildes que sejam os restaurantes em questão.
Na verdade, todo "livro de receitas da família", passado da sua avó para a sua mãe, e que será da filha (ou da nora) em seguida, representa uma transmissão de um legado, de uma memória, de segredos, de uma história particular.
Se sairmos da nossa esfera nacional estaríamos lidando com uma abundância avassaladora de exemplos. Da Família Nussaiba, que guarda a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, há 700 anos, a uma miríade de cervejarias, alfaiatarias, marcenarias e restaurantes, além de relíquias ou objetos especiais transmitidos de um avô, bisavô ou mesmo de antes, e que guarda uma importância identitária familiar.
Nessa conjuntura da transição do humano para o "pós-humano", para seu derivado tecnocrático, ocorreu a série de crises do início dos anos 2000. A primeira onda, em 2000 (o crash da bolha pontocom), atenuada pelo deslocamento da atenção dos mercados mundiais para o setor imobiliário e de energia, sob a cobertura do pânico associado aos ataques de 11 de setembro, e a segunda onda, em 2008, quando o problema não pôde ser adiado tão facilmente. Ambas as ondas estavam ligadas ao fator antropológico. A antropologia social dos detentores de ações não conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento das pirâmides financeiras. O aumento dos preços das ações, que deveria ter sido interminável se as condições do "fim da história" tivessem sido totalmente respeitadas, foi confrontado com o "atavismo" dos acionistas incapazes de escolher racionalmente a estratégia certa para lidar com os padrões heurísticos em evolução da "nova economia".
As pessoas se comportaram de forma "desconfiada", "antiquada", recusando-se a confiar na matemática superior dos processos do mercado virtual. No primeiro caso (2001), a confiança no setor de alta tecnologia e as expectativas de crescimento geométrico nessa esfera caíram; no segundo caso, as hipotecas americanas entraram em colapso, puxando todo o setor financeiro e de crédito em escala global e reduzindo pela metade os volumes dos fundos de hedge, o que levou, entre outras coisas, a uma desaceleração do crescimento econômico e à queda dos preços dos imóveis e da energia. As duas metades da fórmula do "homo economicus" estavam em conflito uma com a outra, e era preciso escolher entre o "homo" e o "economicus". A lacuna entre a virtualidade do crescimento do setor financeiro e a realidade da produção e da cobertura de commodities (mercado fundamental) era, de fato, um problema de colisão com uma barreira antropológica. Se o homem se tornasse verdadeiramente econômico, toda a realidade (produção) seria descontada para ele pela virtualidade do mercado. Mas para que isso acontecesse, o próprio homem teria que se tornar completamente virtual.
-Alexander Dugin
O Pseudo-Protecionismo do Ministro Haddad
Desde o começo da discussão acerca da tributação dos produtos importados por pessoas físicas, há muita confusão e superficialidade em cena. Um lado diz que é preciso defender a “indústria nascente”, como se estivéssemos na década de 60, ou que a indústria madura não necessita de proteção e/ou incentivos, o que uma rápida análise das políticas industriais europeias, russas, estadunidenses, chinesas, japonesas etc. facilmente desmentem. Já o outro lado afirma, em um neorricardianismo piegas, que devemos importar tudo o que for possível, que se nossa indústria não prosperou, que a gente foque apenas em agro e extração mineral – nossas “vantagens comparativas” – como se estas fossem inerentes e eternas, um fator determinístico perene do qual as nações não podem de forma alguma fugir.
Primeiramente, é preciso deixar algo muito claro: a tributação das importações pelo governo federal não tem nenhuma relação com a nossa indústria, com excesso de produtos importados ou qualquer outra desculpa. O Remessa Conforme e o quase certo fim da isenção das compras até 50 dólares dizem respeito única e exclusivamente ao esforço desesperado do ministro Haddad em conseguir toda e qualquer receita possível para o governo.
Haddad está plenamente consciente que, ao se comprometer com o arcabouço fiscal, precisa de alguma receita extra para o governo, para evitar problemas tanto sociais e econômicos quanto desgastes políticos para si mesmo e ao governo. Partindo desta perspectiva, fica muito mais claro o porquê das insistências do ministro para aumento das tributações em várias áreas. Por isso os produtos importados estão sendo taxados não apenas com o imposto de importação, com alíquota de 60%, mas com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), cuja aplicação, da forma que está sendo feita, é completamente inconstitucional, pois é tributação em cima de tributação – isso sem nem considerarmos a questão do ICMS ser cobrado “por dentro”, onde uma alíquota de 25% se transforma em 31,25%.
Dito isto, é importante também ressaltar que a tributação dos produtos importados é, sim, importante e necessária. Um país com uma indústria caquética nunca conseguirá se recuperar com uma competição externa tão forte. Eu, particularmente, considero que uma tributação de 60%, dada uma isenção de algum valor entre 30 e 50 dólares por família (ou domicílio) por mês é um ótimo valor.
Temos que ter em mente que as políticas econômicas, como impostos e juros, são ferramentas de incentivo e de desincentivo. Impostos, antes de serem uma forma de “arrecadação” do governo, é uma ferramenta de (des)incentivar algum serviço ou produto. O porém, neste caso, é que o governo está impondo um enorme desincentivo na compra de produtos importados, mas sem apresentar alguma alternativa. Há, no máximo, rumores formais sobre uma tentativa de reindustrialização. Mas como isso será alcançado, com o arcabouço limitando os nossos gastos? Industrialização não é um feito simples. É oneroso, trabalhoso, demanda tempo, gerações, custos sociais e requer um povo que toma para si parte dos ônus e da tarefa do avanço do país. Nossas elites, em nenhum segmento, partideco ou movimento, oferecem algo sequer próximo disso. No máximo, tentam iludir as massas com promessas vazias e hipócritas.
Se vamos realmente reatar os esforços para a industrialização, isso deve ser feito integralmente: recriação e reconsolidação de bancos de desenvolvimento, afrouxamento das regras orçamentárias para gastos envolvendo inovações e políticas industriais, novas superintendências de desenvolvimento regionais, novas parcerias industriais e tecnológicas com demais membros do BRICS+, novas obras de infraestrutura para pavimentação de rodovias importantes, ferrovias cortando o país de Norte a Sul e Leste a Oeste, renacionalização dos setores estratégicos (refinarias, campos de petróleo, ferrovias, Eletrobrás etc)… Há muito a ser feito, e nos limitarmos a aumento de impostos nunca resultará em um novo salto tecnológico-industrial.
Hoje recordam-se os 2.777 anos da fundação de Roma, a Cidade Eterna, e essa não é uma efeméride irrelevante - ao contrário, ela nos diz respeito enquanto brasileiros.
A data é, também, a da fundação de Brasília, capital do Brasil. Juscelino Kubitschek inaugurou Brasília em 21 de abril precisamente para coincidir com a data da fundação da Cidade Eterna.
Não por capricho, mas para fortalecer a associação simbólica entre Roma e a capital do Estado que tem sido pensada por intelectuais e profetizada por místicos como sua herdeira, como a Nova Roma. Por isso, a Roma antiga nos cedeu como presente uma réplica da Loba Capitolina que amamentou Rômulo e Remo (descendentes do herói troiano Enéas e, portanto, da deusa Vênus). E também por à época acendeu-se o chamado "Fogo Simbólico da Unidade Nacional", que deveria permanecer perpetuamente aceso.
Que o Brasil é o legítimo herdeiro da Roma Ocidental está acima de qualquer dúvida. Trata-se do maior dos países nascidos da semente romana/latina. É, também, por natureza um Império: além de ser uma politeia de larga escala, une raças, etnias, culturas e religiões sob uma mesma ideia e na direção de um mesmo horizonte.
O nome do país faz referência ao vermelho, a cor tradicional romana; ademais, o país em sua origem como independente reivindica o translatio imperii (a transferência da auctoritas romana), por uma miríade de linhas possíveis (da espanhola à bizantina, passando pela habsburga, para não falar no misticismo sebastianista do Quinto Império), especialmente após a extinção do Sacro-Império Romano-Germânico.
De fato, "Augusto" era um dos títulos dos imperadores do Brasil, e foi oferecido também a Pedro I os títulos de César e Autocrata, mas ele equivocadamente os recusou.
Alvissareiros são também os sonhos de Dom Giovanni Bosco, que sonhou que onde hoje é Brasília surgiria um "centro" de onde jorraria leite e mel (alegoria representativa da abundância).
E esses elementos simbólicos são complementados pela visão científica de Darcy Ribeiro, que entendeu plenamente o Brasil e o seu papel histórico potencial como o centro de uma nova civilização, uma herdeira tropical da Roma antiga.
Comemorar a Fundação de Roma é, portanto, como recordar a memória de um antepassado, de um projeto político precursor do Brasil e sem o qual o Brasil jamais teria sido possível.
Uma pena que nosso Estado não comemora formalmente esta data. Deveria.
A constatação de que a maioria dos traficantes ganha mais ou menos no patamar do salário mínimo serve para retirar um véu dos olhos dos tolos que ainda acreditam que o criminoso profissional é um "proletário sem alternativa" - narrativa que tornou-se hegemônica na esquerda nos últimos anos - romanticamente seduzido pela oportunidade de lucrar acima dos parcos salários do trabalhador comum.
Na verdade, o traficante arrisca a própria vida para ganhar o mesmo que um auxiliar de produção inicial em uma fábrica médio. Os "benefícios", no lugar de férias e 13º, são status, poder, honra, o que eventualmente acarreta mulheres e um certo "enquadramento" que pode fornecer um sentido existencial (por mais lamentável que seja).
Ele não está ali por pura e simples "pobreza", ainda que certamente a existência do crime organizado seja, indubitavelmente, fruto de um fracasso social e da ausência do Estado.
O problema é que a visão que lê no criminoso puramente uma "vítima", tomando-o por "proletário oprimido", ignora o que a tradição marxiana indicou sobre o lumpemproletariado, como em "A Luta de Classes na França", em que diz Marx:
"Eles pertenciam, em sua maior parte, ao lumpemproletariado, que em todas as grandes cidades forma uma massa nitidamente diferenciada do proletariado industrial, um campo de recrutamento para ladrões e criminosos de todos os tipos que vivem das migalhas da sociedade, pessoas sem um ofício definido, vagabundos, homens sem lar ou residência".
Ou no Dezoito de Brumário:
"Ao lado de roués decadentes com meios de subsistência duvidosos e de origem duvidosa, ao lado de ramos arruinados e aventureiros da burguesia, havia vagabundos, soldados exonerados, carcereiros exonerados, escravos fugitivos da galé, vigaristas, contrabandistas, lazzaroni, batedores de carteira, trapaceiros, viciados em jogos de azar, cafetões, donos de bordéis, carregadores, literatos, moedores de órgãos, catadores de trapos, amoladores de facas, funileiros, mendigos - em suma, toda a massa indefinida e desintegrada, jogada de um lado para o outro, que os franceses chamam de 'la bohème'".
Na prática, a maioria dos traficantes comuns pertence àquela parcela da população que, por razões diversas, algumas inatas outras adquiridas, é incapaz de segurar um emprego regular típico, especialmente de CLT. Na melhor das hipóteses, ele transiciona entre lumpem e precariado.
Isso anula a sua "qualidade" como elemento socialmente apto a ser organizado e a adquirir consciência em si e para si. Ele não possui papel positivo a desempenhar, tampouco pode ser "redimido", exceto por casos de exceção individual (não raro vinculados à conversão religiosa).
A dificuldade do neomarxismo de reconhecer que há setores sociais "subalternos" ou "pobres" que não possuem papel a desempenhar é fruto da transformação do marxismo de uma metodologia analítica em um evangelho de inclusão, representatividade e redenção.
Resumo: muitos criminosos, senão a maioria, são criminosos porque gostam e porque têm propensão para sê-lo e inaptidão para qualquer outra coisa. Marx sabia disso, os marxistas de hoje não.
A política externa é mais importante que a política interna.
Toda a política interna não é senão a construção das condições para que o Estado consiga se posicionar geopoliticamente e no plano internacional, e todo o labor interno, por mais primoroso que seja, desmorona como castelo de cartas se a elite de um país não estiver suficientemente focada nas questões geopolíticas e internacionais.
De fato, a política externa é a política por excelência, porque é apenas nela que a distinção amigo/inimigo se expressa plenamente. Quando ela aparece na política interna é porque estamos caminhando na direção de uma guerra civil.
E nela que se vê com clareza a demarcação entre diferentes povos, que se definem as identidades e se participa, efetivamente, na construção dos processos históricos.
E poucas coisas demonstram melhor a falência das democracias liberais do que o fato de que, na maioria dos países, os debates raramente abordam questões internacionais e geopolíticas. A política externa quase sempre fica de fora das eleições.
O Presidente Lula chamou as coisas como elas são: o que as FDI estão a fazer na Faixa de Gaza é um genocídio ao nível das acções do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial. Em resposta, um novo Hitler chamado Benjamin Netanyahu acusou Lula de antissemitismo.
Os árabes palestinianos também são semitas, pelo que o principal antissemita é o regime criminoso do chamado Estado de Israel. E Lula tem razão. Bravo, Senhor Presidente!
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