Penitência e Expiação

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"O contentamento de si é a morte espiritual, e a renúncia a todo o progresso, segundo a frase favorita dos Padres da Igreja, é sinônimo de retrocesso."
(P. Albert Weiß O.P)
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4 months ago
**Não ser de vidro no trato.**

Não ser de vidro no trato.

"Menos ainda na amizade. Há os que quebram muito facilmente, relevando sua fragilidade. Enchem-se de mágoas e aos outros de aborrecimento. São mais sensíveis que a pupila dos olhos, que não pode ser tocada, nem por brincadeira, nem a sério. Ofendem-se com ninharias: não é preciso coisa séria. Quem lida com eles deve observar extrema cautela, e nunca esquecer a delicadeza. A menor desfeita os provoca. Cheios de si, são escravos do próprio capricho, pela qual desrespeitam tudo o mais, além de serem idólatras da própria honra."

[Pe. Baltazar Gracián, A Arte da Prudência, capítulo 173: Não ser de vidro no trato]

4 months ago

"Longe, pois, do espírito verdadeiramente religioso e submisso ao verdadeiro Deus imaginar-se inferior aos demônios, por terem corpo melhor. Fora assim e teria de pospor-se a muitos outros animais que se nos avantajam na viveza dos sentidos, em movimento mais leve e fácil, em força muscular e na robusta firmeza do corpo. Que homem igualará, na vista, às águias e aos abutres? Quem, no olfato, aos cães? Quem, na velocidade, às lebres, aos cervos e a todas as aves? Quem, na força, aos leões e aos elefantes? Quem, na longevidade, às serpentes, que, ao mudarem o couro, dizem que depõem a velhice e tornam à juventude? Mas, assim como, pelo entendimento e pela razão, somos superiores a todos os animais, assim também, vivendo honestamente e bem, temos de ser melhores que os demônios.

É ridículo, todavia, a gente inquietar-se tanto pela sublimidade do lugar, porque os demônios habitam no ar e o homem na terra, que pensemos serem superiores a nós. Nesse sentido, todos os pássaros se anteporiam a nós. Mas os pássaros, quando se cansam de voar, voltam à terra, quer para alimentar-se, quer para descansar, necessidades de que os demônios se encontram isentos. Acaso lhes agrada que os pássaros se nos avantajem a nós e os demônios aos pássaros? Se é disparate imaginá-lo, não temos razão para pensar que, porque habitam elemento superior, os demônios sejam dignos e lhes devamos submeter o afeto da religião. Como pôde suceder que as aves aéreas não apenas não fossem preferidas a nós, terrestres, mas também nos ficassem sujeitas por causa da dignidade da alma racional existente em nós, assim se tornou possível que os demônios, embora mais aéreos, não sejam melhores que nós, terrestres, justamente por ser o ar superior à terra, mas porque os homens devem ser preferidos aos demônios exatamente por sua desesperação jamais poder comparar-se com a esperança dos homens piedosos."
[Santo Agostinho, A Cidade de Deus, parte I, livro VIII, capítulo Capítulo XV: Os demônios não são superiores aos homens, quer por terem corpo aéreo, quer por habitarem regiões mais elevadas].

4 months ago
Penitência e Expiação
7 months, 1 week ago

OCIOSIDADE E MENTIRA

"Ora, eu me pus a especular a causa, porque o clima e o céu desta terra influi tanta mentira e parece-me que achei a causa verdadeira e natural. Assim como o céu com uma virtude influi uma outra virtude, assim o clima, que também se chama céu, com um vício influi outro vício. Ponhamos o exemplo na verdade que é a virtude contrária da mentira. Diz Davi: A verdade nasceu da terra. E logo advertiu que a terra, de que falava, não era toda a terra, senão a sua. Mas donde lhe veio àquelas terra (que era a da Promissão), donde veio uma virtude tão singular no mundo, que nascesse dela a verdade? O mesmo profeta disse: Toda virtude da terra veio-lhe do céu. Influiu o céu na terra a justiça e nasceu nela a verdade. A verdade é filha legítima da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é seu. E isto é o que faz e o que diz a verdade: ao contrário da mentira. A mentira, ou vos tira o que tendes ou vos dá o que não tendes: ou vos rouba ou vos condena. A verdade, não; a cada um dá o seu, como a justiça. E porque o céu infliiu naquela terra a justiça, por isso influiu e nasceu nela a verdade. Influiu uma verdade e nasceu outra. O mesmo passa nos vícios. Se o clima influi soberba, nasce a inveja; se influi gula, nasce luxúria; se influi cobiça, nasce avareza; se influi ira, nasce a vingança; e para nascer a mentira, que é que influi? Ociosidade. Onde o clima influi ócio, dá-se mentira a perder. Nasce, cresce, espiga e de um não sei que tamanho como um grão de trigo, podeis colher mentiras aos alqueires. Estes são os dois vícios do Maranhão, estas duas influências deste clima: ócio e mentira. O ócio é a primeira influência, a mentira a segundo, o ócio a causa, a mentira o efeito. Não há terra no mundo, que mais incline ao ócio, ou à preguiça, como vós dizeis, e esta é a semente de que nasce tão má erva. Ouvi a S. Paulo. Fala o Apóstolo da ilha de Creta que é a Cândia, que hoje vai conquistando o Turco, e diz assim: Cretenses semper mendaces, ventres pigri: os cretenses têm dois vícios, que sempre se acham neles: mentirosos e preguiçosos. Pudera dizer mais, se falara nossa ilha e de toda esta terra? Digam-no os naturais. Nem a sua diligência, nem a sua verdade o pode negar. [...]

Falta a verdade, porque sobeja a ociosidade. Dai-me vós homens ociosos que eu vo-los darei mentirosos. Quem trabalha trata da sua vida; quem está ocioso, trata das alheias. Quem trabalha, como cuida no que faz, fala verdade, porque diz as coisas como são. O ocioso, como não tem o que fazer, mente, porque diz o que imagina. Esta é a razão por que a mentira é filha primogênita do ócio.
[...]

Senhores meus, vivemos em uma terra muito ociosa e por isso muito sujeita a imaginações. Aqui se há de pôr remédio. Diz o Apóstolo Santiago que não há fera mais dificultosa de enfrear que a língua. Para se pôr freio na língua, hão de se meter as cabeçadas na imaginação."

(Padre António Vieira, Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. 1654)

7 months, 3 weeks ago

A DOR

"A dor é o eco do pecado: Peccata nostra responderunt nobis; disse Isaías. Se o pecador é impenitente, faz a dor e eco no inferno; se é contrito e arrependido, faz o eco no coração. Entre a multidão de abusos, quantos padece hoje o nosso desgraçado século, o maior e mais lamentável é o abuso da dor. As perdas dos bens eternos, que só são dignos de dor e para cujo remédio foi feita a dor, nem se estimam, nem se choram, nem doem; as lágrimas, as queixas, as lamentações sem fim, todas as leva a dor das perdas temporais, que nem merecem dor, nem se remedeiam com ela. E qual é o fim para que Deus fez a dor, que parece tão contrária e tão inimiga da mesma natureza? Pelos efeitos se vê. Nenhum mal se remedeia com a dor, senão o pecado; nenhum bem se restaura pela dor senão a graça; logo só para remédio deste mal e só para restauração deste bem foi feita a dor. Oh dor! Remédio único do sumo mal! Oh dor! Preço único do sumo Bem! E que maior dor que ver o abusos em que te desperdiçam os homens sem utilidade, nem proveito! Este se dói pela sua pobreza, e nem por isso deixa de ser pobre. Aquele se dói de sua enfermidade, e nem por isso se vê são. Outro, e tantos outros, se doem da má correspondência dos poderosos, e nem por isso se fazem mais justos ou menos ingratos. Dói-se o amor e o ódio; dói-se o desejo e o temor; dói-se a esperança e a desesperação; dói-se a miséria, a fome e o fastio, e a abundância também se dói; dói-se a soberba, dói-se a cobiça, dói-se sobre todas a inveja e não pelos males próprios, senão pelos bens alheios, porque o outro cresce, porque sobe, porque pode, porque manda, e ainda porque vive e porque tarda em lhe vir a morte, gênero de dor, que não alcançou a imaginar o pensamento de Crisóstomo, pregando não em Roma, mas em Constantinopla. Estas são as dores do mundo; e não sei se também as da cabeça do mundo; menos miserável por aquilo de que se dói, que por aquilo de que não se dói. Que miséria mais miserável que ver tantas almas que têm perdido a graça de Deus, doer-se e doer-se de outra coisa que não são os seus pecados?

Senhores meus, desengano: livrar-se ou escapar-se da dor nesta vida é impossível. Não há fortuna tão alta, nem coroa, nem tiara, que dentro ou fora não pague tributo à dor."

(Padre António Vieira, Sermão das cinco pedras da Funda de Davi, Roma).

7 months, 3 weeks ago

A INGRATIDÃO É UMA FORMA DE DEBILITAR O ENTENDIMENTO E A VONTADE
"Que sentença mais justa que privar do amor a um ingrato? A ausência pode ser força, a ingratidão sempre é um delito. Se ponderarmos os efeitos de cada um destes contrários, acharemos que a ingratidão é o mais forte. A ausência tira ao amor a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo. De sorte que o amigo, por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado; se o deixamos de amar, não é culpa sua, é injustiça nossa. Porém se foi ingrato, ficou indigno de amor. Finalmente a ausência combate o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade; e ferido o amor no cérebro e ferido no coração, como pode viver? Assim o ensina a experiência no amor humano. É a ingratidão com o amor, como o vento com o fogo: se o fogo é pequeno, apaga-se o vento; se é grande, acende mais. "E tal foi o amor de Cristo." Quantas ingratidões usaram com Ele os homens! Mas nenhuma, nem todas juntas foram bastantes para lhe remitirem um ponto o amor, nem vivo, nem morto: Cum dilexisset suos qui erant in mundo, in finem dilexit eos."

(Padre António Vieira, Sermão do Mandato. Lisboa: 1643)

8 months, 3 weeks ago
**A ligação do vício do vício …

A ligação do vício do vício da luxúria com o agir imprudente

"Como diz o Filósofo, o prazer é o que corrompe sobremaneira a ponderação da prudência; e sobretudo o prazer venéreo, que absorve toda a alma e a arrasta para a deleitação sensível. Ao contrário, a perfeição da prudência e de qualquer virtude intelectual consiste na abstração do sensível. Por onde, os referidos vícios implicando falta de prudência e da razão prática, como estabelecemos, resulta que nascem sobretudo, da luxúria. [...] Por onde, diz o Filósofo que quem não contém a ira escuta, é certo, a razão, mas não perfeitamente; ao passo que quem não contém a concupiscência deixa totalmente de escutá-la.

Também a duplicidade de alma é um efeito resultante da luxúria, assim como a inconstância; enquanto que essa duplicidade implica na conversão da alma para diversos objetos."

(S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 53, a. 6)

9 months, 1 week ago
"Dar a vida a Deus quando …

"Dar a vida a Deus quando ele a tira, é dissimular a violência; entregar-lha quando ele a dá, é sacrificar a vontade. Quem dedica a Deus os últimos anos, faz cristão o temor da morte; quem lhe consagra os primeiros, faz religioso.

Que dê eu as costas ao mundo, quando o mundo me vira as costas, não é muito. Mas que quando o mundo me mostra bom rosto, dê eu de rosto ao mundo, esta é a valentia maior. Que quando o mundo se ri de vós, vós choreis por ele, ó fraqueza! Mas que quando o mundo se ri para vós, vós riais dele, ó valentia!

Deixar antes de possuir é usura de merecer; porque quem mais dá, mais merece; e quem dá os bens na esperança, dá-os onde são maiores.

Os bens e as grandezas do mundo falsamente se chamam de bens, porque são males; e sem razão se chamam grandezas, porque são pouquidades."

(Padre António Vieira, Sermão de São João Batista. Alcântara. 1644)

10 months ago

Amicorum omnia sunt communia: porque o amigo nenhuma coisa pode ter tão própria sua, que não seja do outro amigo, pois o amigo é o Alter ego. Perde-se a piedade, porque pela impaciência, raiva, inveja e mofina do que do jogo não favorece, saem da sua boca juramentos e execrações contra o céu. Perde-se a mesma liberdade, como se escreve os antigos germanos, que, depois de terem perdido quanto tinham, a jogavam, ficando perpetuamente cativos; e o mesmo se usa hoje nas galés do Mediterrâneo, em que os homens, se homens se podem chamar, se vendem a retro aberto, com condição que se ganham no jogo, restituem o preço, e se perdem, se sujeitam para sempre ao infame e duro cativeiro, ferrolhados os pés ao bando, e as mãos atadas ao remo."

(Padre António Vieira, Sermão Quinto - Série de São Francisco Xavier)

10 months, 2 weeks ago

(Pe. Frederick William Faber, Los Intereses de Jesús, Segunda Parte, Sección IV)

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