**A NOBRE ARTE

O boxe não é apenas combate, mas destino traçado em suor e sangue, um duelo onde o tempo se curva ao pulso da luta. No centro do ringue, dois homens se encontram como ecos de uma guerra ancestral, encarnações da eterna disputa entre força e fragilidade. Cada golpe traça no ar a caligrafia da vontade, cada esquiva é um sussurro da morte frustrada. Ali, onde os pés deslizam como espectros e os punhos falam a linguagem silenciosa da sobrevivência, o pugilista dança entre o ser e o nada, forjando-se no choque da carne contra o frio instante.

O ringue é um altar, e o boxeador, um sacerdote que oferece a si mesmo em sacrifício. Não há espaço para dúvidas quando o primeiro sino ressoa—apenas a fúria contida e o silêncio do pensamento reduzido a puro instinto. O corpo, antes disperso, agora é lâmina afiada, uma flecha disparada contra o peito do destino. No impacto dos golpes, na resistência surda da dor, ele descobre que não há fuga possível: ou se é aço ou se desfaz em poeira.

Mas o boxe não é apenas força—é a dança do vento em torno do trovão. A esquiva bem feita é um verso suspenso no tempo, um corte na ordem do mundo. A guarda erguida é muralha e confissão, um gesto de orgulho e temor. E no espaço entre um golpe e outro, onde a luta respira por um instante, há um vislumbre da eternidade, um segundo que se expande como o brilho de uma estrela antes de morrer.

O pugilista não busca apenas a vitória, mas o direito de existir sem medo. O adversário diante dele é apenas um reflexo da batalha maior, aquela que se trava dentro de si. A cada round, ele renasce e se despedaça, ergue-se e cai, sente o peso de seu próprio nome gravado na pele e nos ossos. Quando o sino final toca, ele não é mais o mesmo. O mundo pode aplaudi-lo ou esquecê-lo, mas ele sabe: sobreviveu ao abismo, e por um momento, foi infinito.**
• O Surdico •

TEXTO AUTORAL SOBRE UMA PERSPECTIVA DA ALT RIGHT BRASILEIRA.