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⠀ ⠀ ⠀ ⠀Bom, essa já é a 87° carta que estou escrevendo e claramente já perdi todas as esperanças que tinha de ser salva, porém vou contar novamente como acabei presa nesse banheiro. Meu nome é Carina Leone, eu tenho 28 anos e vivo na capital desde o meu nascimento, diria que já estou sem comer e beber do jeito correto a pelo menos 2 meses e meio por conta dos mantimentos contados que tenho aqui. Enfim, foi no dia 21 de julho de 2010 que tudo aconteceu, estava pronta para ir trabalhar até que começo a ouvir vários gritos do lado de fora de casa, no começo fiquei receosa para ver o que realmente estava causando todo esse tumulto, me aproximei da janela e afastei a cortina tive a visão da coisa mais aterrorizante que podia imaginar, tecnicamente era apenas uma névoa preta e vermelha vindo em direção a nossa cidade com uma certa velocidade, porém só aquilo já teve o poder de me apavorar. Permaneci um tempo apenas olhando para tudo aquilo sem saber o que fazer, vendo várias e várias pessoas sendo "devoradas" por toda aquela névoa, sem entender muito bem o que era aquilo. Apenas corri o mais rápido que pude e fechei todas as janelas de casa, peguei o máximo de comida que pude jogando tudo em um lavabo que tinha perto da cozinha, subi rapidamente para pegar alguns cobertos no quarto pois não tinha idéia de quanto tempo ficaria trancada ali, quando estava descendo as escadas pude ver a névoa entrando por baixo da porta de entrada e algumas pessoas me com os olhos completamente brancos batendo em minhas janelas, comecei a tremer no mesmo momento e apenas continuei meu caminho, infelizmente não tinha tempo para ajudá-los. Quando já estava no meu abrigo improvisado, tranquei e coloquei um cobertor no pequeno vão que tinha embaixo da porta, me sentei no chão percebendo que provavelmente viveria ali e morreria ali, por um milésimo de segundo pensei que seria uma ótima idéia ser levada para um lugar que nem conhecia direito, estava em um momento que não me aguentava mais, tudo que tentava fazer falhava miseravelmente e me perguntava todos os dias se estava certa em continuar, pois para mim a única saída era realmente desistir de absolutamente tudo. Mas, enfim, estou presa aqui até hoje, o silêncio lá fora já virou algo comum mesmo para uma rua tão movimentada que era, não sei se mais alguém conseguiu se esconder mas essa é a última gota de esperança que tenho e também seria egoísta demais pensar que seria a única aqui, por isso estou escrevendo essa carta nesse caderninho que sempre mantinha por perto e passo todas abrindo uma pequena fresta na janela do banheiro torcendo para que notem a minha movimentação ou algo assim, hoje já é o dia 87 e ninguém notou.